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Nigéria: o sangue de que poucos falam

Domingo, Julho 3, 2022 - 01:00
Publicação
Observador Online

Recordo-me perfeitamente. Não foi há muito tempo. Pelo menos não para o meu tempo psicológico. Pouco antes da Páscoa de 2019, um bárbaro e horrível ataque a uma mesquita na cidade neozelandesa de Christchurch provocou meia centena de mortos. A impressão com que fiquei na ocasião, foi que todo o mundo, e com toda a razão e mais alguma, ficou chocado, indignado, abalado por tal evento totalmente inaceitável.

Como é que algo assim pudera acontecer num país como a Nova Zelândia? Como é que alguém, tão cheio de ódio e cinismo, pôde realizar uma ação tão repugnante? O tonitruar de espanto ainda ressoa hoje e certamente na consciência de quem ficou emocionado e afetado por esse massacre que, direta ou indiretamente, originou cerca de duas dezenas e meia de textos neste mesmo órgão noticioso que, tão bondosamente, acolhe estas minhas presentes palavras.

Um massacre tão repugnante que - apesar de no dia de Páscoa desse mesmo ano ter havido uma série de ataques bombistas no Sri Lanka que causaram perto de 250 mortos - foi estimado como o mais trágico e sangrento evento violento de 2019, nas habituais "listas dos mais importantes eventos do ano" elaboradas por distintos órgãos de comunicação social. A matemática e relativismo neomodernos também dão nisto, a ponto dos membros da proeminente Religion News Association dos EUA nem terem colocado, entre os 10 mais importantes eventos religiosos de 2019 e ao contrário do evento neozelandes, o que se passou no país insular do Índico.

Também não ouvi - mas admito que estou a ouvir cada vez pior e ando muito ocupado - quase nenhuns ecos ao, para mim, também bárbaro, cruel, cobarde, hediondo, chocante e revoltante ataque perpetrado durante o, tão importante para os cristãos, dia de Pentecostes numa Igreja Católica na urbe nigeriana de Owo. No Observador, contam-se, no momento em que escrevo este texto, por menos do que os dedos de uma mão as notícias acerca desse acontecimento - todas elas provindas da redação da Agência Lusa, por vezes genuinamente surreal quando trata de temas religiosos. 

Nota: Este artigo faz parte dos conteúdos exclusivos para assinantes do Observador.