Fonte: Renascença Online. Autor: Ângela Roque
Recuperar o sentido cristão do Natal é obrigação da Igreja, defende Tiago Freitas. Em entrevista à Renascença o sacerdote e professor da Católica fala do desafio de evangelizar em meio urbano, onde o modelo paroquial que existe já "não serve". Sobre a sinodalidade, diz que respeito por todos os participaram no Sínodo exige decisões. "Não podemos brincar com o compromisso de tantos cristãos".
O atual modelo de paróquias está ultrapassado e já não responde às exigências de quem vive na cidade, defende Tiago Freitas. O sacerdote da arquidiocese de Braga, e docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica (UCP), há muito que estuda a presença da Igreja nos meios urbanos.
Autor de uma tese relacionada com o tema, lançou recentemente o livro "A Igreja regressa à Cidade" (Paulinas Editora), onde reúne textos de vários autores. Em entrevista à Renascença, diz que a Igreja tem de se adaptar e procurar estar onde as pessoas estão. Mas, mudar exige "lideranças carismáticas" e mais criatividade aos padres, que não podem continuar a ser formados da mesma maneira.
Em pleno Advento diz que é importante não se perder o sentido cristão do Natal, nos símbolos e nos gestos. E comenta o caminho sinodal que a Igreja está a fazer, e que analisa no ensaio "Quando os cristãos (não) sentem a fé - discernir com estilo sinodal", que a UCP acaba também de publicar.
Tem-se dedicado à reflexão sobre a vida paroquial e a presença da Igreja nas cidades, e neste livro 'A Igreja Regressa à Cidade', fala do desafio que é hoje evangelizar e servir nas grandes metrópoles. Lembra que a cidade foi, e continua a ser, um "lugar teológico" e que é hoje, simultaneamente, cenário de missão onde a Igreja se reinventa. Como é que se pode ser e ter uma presença cristã significativa nas cidades hoje?
Essa é uma grande pergunta. O livro parte, antes de mais, de um dado sociológico: é que, muito em breve, praticamente 75% da população mundial estará a viver nas grandes metrópoles - hoje já temos cidades com 5 milhões, 10 milhões, grandes periferias. Mas também parte de um dado bíblico: a Igreja nasceu na cidade. Quando dizemos no livro que a Igreja 'regressa à cidade', ela nunca deixou de estar, mas regressa àquela que é a sua origem e também a uma exigência dos tempos em que estamos.
Hoje há outros desafios?
Sim, seguramente. Nós somos muito devedores de um modelo mais de aldeia, de ser comunidade: um pároco, um território, uma estabilidade. A cidade é totalmente diferente. Um modelo idêntico ao de aldeia não resulta na cidade, porque os ritmos são diferentes, o grau de compromisso das pessoas também é diferente. É um modo de estar totalmente diferente, eventualmente porque tem de haver um maior diálogo com a cultura, e com as culturas. Uma cidade também é multirreligiosa, multicultural, e isso desafia intensamente a cidade e a Igreja.
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