Apresentação
Os historiadores da antiguidade tardia observam que as primeiras gerações de cristãos foram habitadas por um dilema: ir para o mundo ou separar-se dele. A génese do cristianismo é contemporânea de tendências religiosas que se automarginalizavam e procuravam no «deserto» um lugar de renúncia a este mundo, em nome de um mundo a vir. Pedro e Paulo representam uma opção diferente: mergulhar no «mundo civil». Por isso, encontramos as comunidades cristãs nos centros da romanidade – nos nós viários da circulação comercial e militar, mas também da disseminação de ideias. Para além desta rede, o anúncio do evangelho de Jesus assumiu a língua comum do Império, renunciando ao refúgio de uma língua esotérica, acessível apenas aos iniciados. As Igrejas cristãs estavam, assim, inseridas nos diversos filamentos do tecido relacional que descrevia o mundo que habitavam. Pode, pois, afirmar-se que a génese do cristianismo ficou marcada por uma experiência de secularidade ou laicidade. Não espanta que uma das primeiras categorias de autoidentificação dos cristãos passe pela figura da «cidadania», na qualidade de estrageiro («paroikos», cf. 1Pe) – estrangeiro na dupla aceção de «visitante de passagem» ou «estrangeiro domiciliado». Esta consciência encontra na hospitalidade e na diaconia o cerne da sociabilidade cristã e aprofundar-se-á na expressão de uma dupla cidadania: o cristão está no mundo sem ser do mundo (cf. «Epístola da Diogneto).
Nas palavras algo provocadoras de Edward Schillebeeckx, «fora do mundo não há salvação» – que evocamos no título desta escola de Verão –, podemos encontrar o eco desta secularidade genética do cristianismo. Num contexto epocal em que a vivência religiosa tende a ser privatizada, interiorizada ou individualizada, regressar a uma leitura do cristianismo enquanto estilo de habitar o mundo é uma viagem oportuna. Assim, a Summer School da Faculdade de Teologia, organizada pelo Instituto Religare, entre obras e biografias, propõe um itinerário de descoberta do impacto da traição bíblica e cristã nos estilos de habitar o mundo.
Destinatários
- Agentes ligados a diferentes contextos de transmissão religiosa e cultural;
- Outros agentes ligados aos domínios da educação, comunicação, cultura, liderança e assistência religiosa;
- Estudantes de diferentes programas do ensino superior interessados em formação especializada no domínio dos Estudos de Religião;
- Outros públicos interessados em formação contínua.
Calendário
- 5 de junho
Max Weber e a ética protestante
Rita Mendonça Leite - 12 de junho
Enrique Dussel e as metáforas teológicas de Marx
João Manuel Duque - 19 de junho
Maria de Lourdes Pintasilgo, o cuidado e o «querer comum»
Alfreda Fonseca - 26 de junho
Papa Francisco e a «casa comum
Adriana Martins
Moderação e comentários: Alfredo Teixeira, José Manuel Pereira de Almeida
Taxas
50€ (inclui certificado, quando solicitado)
Docentes ou colaboradores da UCP e alunos de cursos conferentes de grau da Faculdade de Teologia (ou em associação com a FT) estão isentos de taxa de inscrição.