Temário e Formadores
 

José Tolentino Mendonça e a metamorfose necessária

Na leitura de José Tolentino Mendonça, o cristianismo de Paulo começa pela operação necessária de reinstauração do sujeito crente. O cristão é, para Paulo, um sujeito crente em construção, uma escolha de viver, em estado de processo, ao mesmo tempo a plenitude e o inacabamento. Assim, a condição crente, no cristianismo paulino, exprime-se na tensão, no fazer e refazer permanentes. Este cristianismo não é uma identidade dada, é «work in progress». Assim, a mensagem paulina não anda à procura da disciplina ou da objetividade dos ritos, mas propõe-se como um apelo de transformação. A experiência crente, segundo Paulo, é metamórfica. Mas essa transformação não é folclore, é mística. Paulo democratiza, pois, a mística, que deixa de ser propriedade de iluminados e de virtuosos da religião

José Rui Teixeira é diretor e presidente do Conselho Científico da «Cátedra Poesia e Transcendência» (UCP). Integra o Conselho Científico do Instituto de Pensamiento Iberoamericano, da Universidad Pontificia de Salamanca. É investigador do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (UCP-FT), e do Centre de Recherches Interdisciplinaires sur les Mondes Ibériques Contemporains, da Université Paris-Sorbonne. É membro da Asociación Latinoamericana de Literatura y Teología, da European Society for Catholic Theology e da Associação Portuguesa de Antropologia. Coordena o projeto Teotopias e o projeto editorial Officium Lectiones. É poeta e autor de diversos estudos no domínio dos seus interesses de pesquisa.

Alain Badiou e o universalismo paulino

A pressão cruzada de um dispositivo tecno-económico, que homogeneíza e submete, e de um comunitarismo identitário que pretende segmentar a cidadania em bolhas tribais, separadas e mutuamente hostis, ameaça e desgasta hoje a democracia. Para sair deste impasse, A. Badiou propõe, num livro herético e profético, que se visite o universalismo paulino, que concebe o universal não como uma verdade objetiva a obedecer, mas como um acontecimento que transforma o sujeito, inserindo-o numa dinâmica de comunhão. Para Paulo, «não há um se não for para todos» e a sua força unificadora produz-se não como uma lei ou uma necessidade, mas como gratuidade que liberta – ao instaurar o indivíduo na sua autonomia, associa-o indissoluvelmente a todos os outros. Mesmo que se leia o cristianismo paulino como uma «fábula», é certo que hoje, observa o filósofo, precisamos dela mais do que do que nunca.

Teresa Bartolomei é investigadora integrada do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (UCP-CITER) e professora convidada da Faculdade de Teologia (UCP). Em 2018, publicou Radix Matrix (Lisboa: UCEditora), um ensaio sobre eclesialidade e cidadania, S. Paulo e a dimensão comunitária da democracia. A questão do mal é discutida à luz dos textos bíblicos em Dove abita la luce (Milão: Vita e Pensiero 2019). Na área de investigação sobre teologia e literatura publicou O poeta no inferno (Lisboa: UCEditora 2021) e, como coeditora, o volume: In the Footsteps of Dante: Crossroads of European Humanism (Berlin: De Gruyter 2023).

Giorgio Agamben e o tempo que resta

Giorgio Agamben explora filosoficamente as principais intuições do curso sobre teologia política de Paulo dado por Jacob Taubes. Entre essas intuições, interessa ao filósofo italiano a categoria de tempo. Na sua perspetiva, a experiência cristã do tempo, enquanto tempo messiânico, não coincide com um ponto na linha do tempo. É um tempo que resta, que não é outro tempo, fora do tempo cronológico, mas um tempo dentro do tempo, interior e operativo, assumindo a tarefa de consumir a existência na realização do que dá sentido à vida de cada um, o único tempo que nos resta.

Alex Villas Boas é Investigador Principal e Coordenador Executivo do -Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (UCP-FT). É Pós-Doutorado em Teologia e Espiritualidade pela Pontificia Università Gregoriana e Doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro com Agregação em Ética e Linguagem Teológica. É Visiting Professor na Universidade Estadual de Campinas e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.  Entre os diversos interesses de investigação, destaca-se o campo das relações entre teologia e literatura.

E. P. Sanders e a religião de Paulo

Até aos anos 70 do século passado, as leituras teológicas de Paulo foram muito determinadas pelas perspetivas luteranas. A obra de Sanders (1937-2022), publicada em 1977, resgatou o judaísmo de Paulo. Para alguns leitores, nesta leitura, Paulo já não era «católico» ou «protestante». A chamada «new perspective» que esta obra inaugura foi alvo de algumas críticas, que sublinharam o facto de o «monismo da Aliança» apresentado por Sanders não levar suficientemente em conta o judaísmo da diáspora contemporâneo de Paulo. Em todo o caso, a obra e a sua receção marcaram um ponto de viragem nos estudos paulinos.

José Carlos Carvalho é Investigador Integrado do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (UCP-FT). A sua tese de doutoramento em Teologia Bíblica teve como objeto o Livro do Apocalipse (Experiência e Resistência em tempos de desencanto - estudo bíblico-teológico da simbólica babilónica de Ap 18). Para além desse domínio, desenvolve a sua atividade de docência e investigação sobre o corpus paulino.

Marie-José Mondzain e a língua de passagem

No seu itinerário de pensamento sobre o «homo spectator», Marie-Joseph Mondzain insere o pensamento paulino no quadro das representações bíblicas sobre a separação babélica das línguas. Mondzain lê Paulo no seu lugar de pensador de uma língua universal que se dirige a cada um, sendo compreendida por todos – o estatuto icónico do cristianismo será o corolário desta transformação. No entanto, Mondzain sublinha que, na ótica de Paulo, esse «universal» exige a migração e a tradução. Ele, que não foi «espectador» dos caminhos do messias, abandona a sua língua de origem e transmite a mensagem numa nova língua. Ou seja, traduz. A tradução tem registos diversos: o dom das línguas ou a profecia, e uma língua «infalada», o amor-ágape.

Paulo Pires do Vale Paulo é, atualmente, Comissário do Plano Nacional das Artes. Docente universitário, ensaísta e curador, foi entre 2015 e 2018 presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte e é autor de diversos ensaios para revistas, livros e catálogos de exposições.

 

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